Uma das cenas que mais me impressionou em "The September Issue" é quando Anna Wintour e os editores da Vogue se reúnem no Ritz com os compradores de todas as lojas de departamento mais importantes dos EUA (Bergdorf, Saks, Neiman Marcus...) durante a temporada de desfiles em Paris.
Nesta reunião os editores fazem um briefing das tendências que eles mais vão dar destaque nas edições de outono/inverno daquele ano, assim os compradores ganham uma direção para fazer suas encomendas e colocar nas lojas o que as clientes vão ver na Vogue. Um dos CEOs pede para Anna ajudar-lhes numa outra questão problemática: a entrega das mercadorias. E ela brinca perguntando se ele quer que ela dirija um caminhão...
Se você ainda acha que o papel de Anna Wintour é aparecer de óculos escuros e casacos de pele nas primeiras filas e gerar notícias maldosas na internet, pode mudar de idéia. A função dela é viabilizar toda uma indústria, afinal o que a gente vê nas páginas das revistas não é moda, porque a moda precisa ser consumida para existir. Então, nada mais lógico do que mídia e mercado trabalharem juntos para que isso aconteça.
A essa altura, você já deve ter visto fotos de Anna com Carine Roitfeld em uma reunião com o ministro da Indústria, Christian Estrosi. Ela aproveitou a semana de alta-costura para ir até ele e pedir que a França dê mais suporte aos novos talentos e permita que os profissionais da moda trabalhem mais que 35 horas semanais nas semanas pré-desfile. Pela legislação francesa, os trabalhadores não podem trabalhar mais de 7 horas por dia e não podem fazer hora extra. Bem, pelo que aparece no documentário "Marc Jacobs et Louis Vuitton" isso não rola lá nos escritórios da LVMH, mas vamos ao que interessa:
Nova York tem o CFDA/Vogue Fashion Fund, Londres tem o Fashion Fringe at Covent Garden e uma série de outros programas. Até a Itália tem o Who's Next. Todos projetos de apoio e suporte aos novos talentos. E o que Paris, berço da alta-costura, tem ou faz para apoiar talentos em ascensão? Nada. Isso mesmo, zero. Tudo bem que as maiores grifes do mundo estão lá, várias renovadas por estilistas jovens... e estrangeiros!
Quando John Galliano, Alexander McQueen, Stella McCartney e Phoebe Philo assumiram Dior, Givenchy e Chloé, respectivamente, nos anos 90, muitas críticas surgiram. Mas a questão é que todos eles e vários outros nomes contemporâneos importantes estudaram e se prepararam para assumir a direção criativa de uma grife. Até onde eu sei não existe uma escola na França que ofereça um programa de mestrado tão forte como as escolas inglesas e italianas.
O outro ponto é que desde Christian Lacroix, nos anos 80, Paris não lança um nome forte na moda mundial. Enquanto as outras capitais acolhem e incentivam os novos, na cidade-luz eles vão trabalhar na equipe de estilo das grandes grifes e ficam esperando pela grande chance de assumirem a direção criativa, o que pode levar décadas.
Concluindo, está na hora da moda francesa acordar para o século XXI, não é? Até porque quem vive de passado é museu e como a Anna diz, a moda olha para frente e não para trás. Alguém ainda duvida que o desejo dela vai virar uma ordem?
Ps: olhando essa foto das duas só posso concluir que bichos é super tendência!
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